Muito do nosso imaginário sobre o futuro é povoado por visões distópicas de uma sociedade em que o Homem, ultrapassado no intelecto e capacidade física pelas máquinas que criou, é por estas subjugado e destruído, sendo comuns narrativas mais ou menos dramáticas desse desigual combate e não menos fatídica resistência.
Mas haverá razão efectiva nessas visões, ou são apenas meros reflexos do comum receio do desconhecido que, na pior das hipóteses, poderão inspirar cautelas que mitiguem essa possibilidade e simultaneamente proporcionem à nossa sociedade uma existência mais justa e equilibrada?
Ainda há pouco mais de 100 Anos, havia pessoas cuja função era apenas acionarem gigantescos leques com os quais refrescavam os salões dos seus patrões. Com o rendimento que dai auferiam, asseguravam a sua sobrevivência e da sua família, tendo, entretanto, sido substituídos por um dos mecanismos de inteligência mais inerte, o motor elétrico…
Ainda hoje somos confrontados com uma sociedade que, se por um lado não consegue pagar mais do que uma fraca retribuição por trabalhos ditos menores e por isso não angaria junto dos seus concidadãos quem se prontifique a presta-los e, simultaneamente, deixamos padecer na noite fria do mar ou das estepes, aqueles que de bom grado por pouco mais que a oportunidade aceitariam essas funções por tão pouco desempenhar.
Isaac Asimov, um dos maiores visionários e escritores de ficção cientifica, preocupou-se tanto com o tema da possível ascensão das máquinas que definiu as aclamadas e indiscutidas Três Leis da Robótica:
1) um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal;
2) os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei;
3) um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores.
Sinceramente, penso que estamos muito mais precavidos para qualquer ascensão das máquinas, da Inteligência artificial e robótica do que de nós próprios, seres humanos. Pese embora a evolução em tantos e destacados domínios, ainda mantemos muitas das características que mais nos assemelham a qualquer inumana máquina fria e bruta, do que da irmandade que deveríamos constituir e humanidade que com todos e todos juntos deveríamos ter.
Não creio na ascensão das máquinas ou de qualquer visão predadora em que delas venhamos a ser vitimas, mas antes temo muito mais a ascensão de seres que de humanos apenas tenham o nome, esses sim, todos deveremos combater e evitar o proliferar, afinal e ao contrário das máquinas com as 3 leis do Asimov, não creio que alguma vez nos venha a ser possível aceitar quaisquer leis que nos protejam de nós próprios.
Victor Gandarela Vasques
Pick-a-Buy | Founder & Believer